Conheça a blogueira que emagreceu 33 kg em 10 meses


Com uma barriga digna de capa de revista e pernas com músculos definidos, Michelle Franzoni, de 35 anos, fica tímida ao posar de short e top para as câmeras. “Tá tudo no lugar? Eu fico um pouco desconfortável de short. É trauma de ex-gordinha, sabia?”, explica ela durante uma sessão de fotos para o Terra. A insegurança tem um motivo que vem de um passado não muito distante: mesmo em boa forma, a autora do Blog da Mimis, que virousucesso entre quem busca dicas para perder peso na internet, venceu a luta contra a balança após eliminar 33 kg em dez meses.

Em fotos recentes publicadas no Facebook e Instagram, mal dá para imaginar que Michelle saltou de um manequim 48 para 38 entre setembro de 2011 e julho de 2012. Tanto que, ao começar o processo de emagrecimento, nem ela acreditava que conquistaria curvas que virariam estímulo para outras mulheres. “Quando eu comecei a dieta, estava um pouco mais magra, com 98 kg, mas eu acredito que eu já tenha pesado uns 105 kg. Eu falo que emagreci a partir dos 98 kg porque foi o que eu pesei na balança. Agora eu tenho 65 kg para 1,70 m de altura”.

O segredo para os quilos a menos nada tem a ver – acredite, não mesmo! – com shakes, dietas milagrosas, remédios ou cirurgia plástica. Michelle apostou em uma dieta balanceada combinada com exercícios, terapia e homeopatia para controlar a ansiedade e evitar o efeito sanfona. “Eu sabia que podia emagrecer, tinha certeza, mas sabia também que poderia voltar a engordar”, contou ela, que era acostumada a ganhar alguns quilos no inverno e correr para a academia três meses antes do verão, todos os anos.

Em entrevista para o Terra, ela explica como surgiu a ideia de fazer um blog com dicas para perder peso, detalha como foi o processo de emagrecimento e as mudanças na vida após os 33 kg a menos. “O que deu resultado pra mim foi não pensar em emagrecer, mas em mudar o estilo de vida”. Confira a seguir.
Michelle Franzoni: Sempre tive problema com a balança. Foi a vida inteira, desde criança. Eu tinha um corpo normal, nada espetacular, mas todo inverno eu engordava uns quilos e aí escondia embaixo da roupa, e no verão emagrecia um pouquinho, mas sempre tive gordura localizada. Mesmo quando emagrecia, nunca tive o corpo que tinha hoje. Olhava aquelas modelos, corpo de revista, e achava irreal. Nunca almejei ter porque pra mim as pessoas nasciam assim, né?
Mas aí tive problemas emocionais e de estresse e engordei muito, mais de 30 kg em um ano. Foi muito rápido. Eu sempre fui muito descolada e enturmada, mas naqueles três anos eu sumi porque eu não me reconhecia. Sempre descontei minha ansiedade na comida, além de que minha cultura alimentar familiar era muito forte. Ninguém liga e fala “vamos dar uma volta?” ou “vamos passear?’. É sempre “vamos comer? Vem aqui em casa, tem churrasco”. Então eu cresci no meio disso.

Quanto você pesava na época?
Nessa época eu não sabia nem quantos quilos eu estava, porque eu não me pesava. Quando eu comecei a dieta, estava um pouco mais magra, com 98 kg, mas eu acredito que eu já tenha pesado uns 105 kg. Eu falo que emagreci a partir dos 98 kg porque foi o que eu pesei na balança. Agora eu tenho 65 kg para 1,70 de altura.

Qual a parte mais difícil dessa fase?
Nesses três anos que engordei muito foi muito ruim porque eu não me reconhecia no espelho. Uma coisa eu acho que é a pessoa sempre ter sido gorda e outra é a pessoa engordar de repente. Eu não me aceitava. Além dos problemas que eu tive externos, o ganho de peso piorou tudo. Aí você entra no ciclo: você tem um problema e come, aí você engorda e continua com problema e come mais ainda. Aí virei aquela pessoa em um ano, que eu pensava: ‘quem é essa?’. Não tirava fotos. As fotos que eu tenho da época são durante uma viagem com a minha irmã. Eu batia foto dela e aí, por insistência, eu deixava ela tirar algumas minhas.

E quando você decidiu emagrecer?
Eu estava em Paris, no auge na banha, e comecei a emagrecer porque eu caminhava muito. Embora não tivesse mudado a alimentação, fazia exercícios. Quando eu cheguei no Brasil, me olhei e pensei “tô magra”. Nunca tinha me pesado mais. Subi na balança e ainda estava com 92 kg. Aí fiz uma dieta naquele meio tempo, fui para 85 kg, mas quando comecei a fazer minha tese de doutorado voltou tudo.

Aí em 2011, eu e meu marido queríamos ter filho – a gente ainda quer, mas agora vai ser adiado. Meu principal objetivo não foi só emagrecer, mas eu queria ser a pessoa que eu era antes de engordar. Nunca achei que pudesse ter o corpo melhor, só que eu queria ter outro padrão alimentar. Eu queria ter filhos e dar pra minha família nova uma outra cultura alimentar. Então esse foi o principal motivo. A diferença é que eu não só emagreci, mas mudei meu estilo de vida.

Seu marido te acompanhou na dieta?
Ele entrou no ritmo também. Ele faz dieta para ganhar massa porque o metabolismo dele é muito rápido. Ele é magro e não engorda de jeito nenhum. Quando ele entrou na família era aquela comilança, mas aí eu falei que não era isso o que eu queria. Queria uma vida saudável, correr atrás das crianças, ter disposição. Hoje eu tenho 35 anos, não 20. Se você já é obesa com 30/40 anos, que família vai ter?

Como foi o processo de emagrecimento?
Eu sabia que podia emagrecer, tinha certeza, mas sabia também que poderia voltar a engordar. Aí a primeira coisa que eu fiz foi procurar terapia para controlar a ansiedade. Sabia que meu problema era emocional e se eu não cuidasse disso, ia engordar de novo. Aí eu faço psicoterapia e na época também procurei uma médica homeopata para um tratamento para controlar a ansiedade, mas não acreditava muito. Queria fazer um tratamento natural e falei: “nem vou tomar remédio para não mascarar”. Então pensei em fazer um tratamento homeopático pra ansiedade e foi super legal. Funcionou muito.
Como era sua alimentação antes?

Antes eu acordava e não conseguia tomar café da manhã porque não tinha o hábito e ficava enjoada. Só conseguia comer 1h30 ou 2h depois, um ou dois pães brancos com queijo e presunto. No almoço era arroz, feijão, carne e batata e o jantar era um repeteco do almoço. Nessa época também não tinha nada integral na minha alimentação e eu não seguia a regra de comer de três em três horas.

E o que mudou na sua alimentação?
Eu sempre fiz dieta. Sabia fazer dieta. A gente não come certo porque não quer, né? Eu nem precisava de uma nutricionista, mas pensei que era mais um profissional que estaria ali, dando estímulo, e foi super legal. O que mudou na alimentação foram os grãos integrais, as carnes magras, mais legumes. Hoje meu prato tem muitos legumes, um carboidrato ou dois e uma carne magra. Eu tirei toda a gordura e cozinho totalmente sem óleo. Se eu usar óleo pra 1% das coisas que eu faço é muito. Acho que o segredo é a escolha de alimentos. Na época de emagrecimento, ingeria 1.200 calorias por dia e fazia exercícios. E, claro, todo fim de semana tinha direito a um doce e uma refeição livre. Já começava a segunda pensando nisso, era um evento.

Quais exercícios você praticava?
Eu já tinha bicicleta em casa pra ir ao mercado e adorava andar. Eu ia no médico de bike, no supermercado de bike, na academia de bike e hoje eu faço isso tranquilamente. Pra pegar o carro é um tormento. No início, quase 100 kg em cima da bicicleta era difícil, mas nos 10 primeiros dias eu comecei a ver que minha disposição estava melhor e comecei a notar resultado na balança.
Aí 15 dias depois de começar a dieta, tomei coragem e fui para a academia fazer musculação. Foi duro. Tem avaliação, roupa para comprar e toda aquela coisa, mas escolhi uma calça preta, uma camiseta bem larga e fui. Sempre fiz exercícios, mas não com frequência. Como meu corpo reage rápido, eu fazia três meses de academia perto do verão, quando eu queria emagrecer aqueles quilinhos e pronto.

Com que frequência você fazia exercícios na época de emagrecimento?
Como atividade física, eu comecei pedalando 40 minutos todos os dias. Aí eu comecei a gostar e fui aumentando. No final da dieta mesmo eu fazia 30 ou 40 km todos os dias em uma hora e meia ou duas horas. Junto com isso, fazia um treino pesado na academia, cinco vezes por semana por 45 minutos. Mas eu não indico tudo isso, não precisa. Eu acho que se pedalar 40 min a uma hora já é suficiente.

Quando você começou a notar diferença no corpo?
Eu notava diferença de semana a semana. Nas primeiras semanas você perde líquido, então dá pra ver muita diferença.
Além de terapia e homeopatia, você fez algum tipo de massagem ou drenagem?
Não. Na verdade, fiz drenagem por um mês e meio, mas só. Tudo foi com exercício e alimentação.

Você toma algum remédio ou suplemento?
As meninas se impressionam muito com a minha pele durinha e sempre perguntam se eu tomo colágeno, mas não. Eu só tomo suplemento de proteína.

E como você conseguiu “vencer” a flacidez?
A questão da pele eu atribuo à estética mesmo. O exercício ajuda? Pode ser. Mas eu acho que é a genética. Minha família é toda assim. Minha mãe é gordinha, mas tu não consegue beliscar ela de tão durinha. Eu era assim, gordinha e durinha. É a densidade muscular mesmo. As pessoas falam: “nossa, você tem 65 kg e é assim, mas eu tenho 65 kg e sou muito gorda”. É a massa muscular. Por exemplo, as modelos magérrimas, se tu pegar vai ver que é flácido. Aí tu pega uma pessoa que pega peso e é uma diferença de consistência.

Mas você fez lipoaspiração ou alguma outra cirurgia?
Não, até porque não tem jeito. Ela [lipoaspiração] tira gordura localizada, mas não vai lipar a pessoa inteira. A única cirurgia que eu fiz no processo foi colocar silicone. Eu tinha prótese nos seios já há 10 anos e como emagreci muito, nem isso adiantou. Aí eu aumentei um pouco a prótese ano passado, pra 340 ml.

Você cortou alguma coisa do cardápio?
Não. Não deixo de comer nada que eu gosto. Adoro culinária, adoro gastronomia. A gente frequenta restaurantes maravilhosos, eu vou lá e peço, mas no outro dia eu compenso. Meu marido é gaúcho, antes a gente fazia churrasco todo fim de semana, agora não é com a mesma frequência e as carnes também mudaram. A gente faz uma fraldinha, um franguinho. Eu adaptei tudo, churrasco, feijoada… Mas se eu vou num restaurante e estou a fim de comer pato, que é gordo, eu como. Mas no outro dia vou pedalar.

Qual foi a parte mais difícil do processo de emagrecimento?
Na primeira fase tu tem que recusar alguns convites, não tem jeito. Ou tu tem que ter um autocontrole muito grande pra ir em tudo e não comer nada. Mas mesmo assim as pessoas ficam te incentivando. As pessoas não entendiam que eu não podia provar. Eu sabia que se eu comesse um chocolate fora de hora eu ia querer mais. Hoje eu tenho controle, mas antes eu não tinha.

E no seu blog você diz que não existe dieta mágica ou shake emagrecedor, mas por algum momento você recorreu a essas alternativas?
Eu já tomei shake quando era muito adolescente, mas sempre acreditei que a alimentação tem que ser equilibrada. Gosto muito de cozinhar e acho que o segredo é adaptar receitas. Ninguém consegue fazer dieta radical e viver de shake o ano todo.

Você tinha celulite?
A celulite sumiu. Eu tinha bastante. Uma pessoa com 100 kg tem celulite em tudo. E mesmo antes, sem ser gordinha, como eu sempre tive muita gordura aqui embaixo, sempre tive bundão e coxão, a celulite sempre vem. Eu tinha muita celulite na bunda porque é onde eu mais tinha gordura. O baixo percentual de gordura diminui a celulite, a alimentação que tu faz também. Eu noto que se eu for ficar menstruada ou comer alguma coisa diferente, ela aparece. Celulite é alimentação e hormonal, mas o baixo percentual de gordura fez com que elas sumissem.

E as estrias?
As estrias continuam nos mesmos lugares de sempre. Eu comecei a ter na adolescência, com esse emagrece e engorda e elas seguem aí. Mas eu estou sempre bronzeadinha e aí esconde.
Como é a dieta para manter o peso?
Da dieta de emagrecimento, o que muda pra hoje é a quantidade. Só. Não tem nada diferente. Para manter eu ingeria 1.200 calorias e hoje posso 2.000. Hoje eu faço 1h30 de exercício quando eu pedalo, mas não passo três horas na academia. Agora eu não pedalo mais tanto, não tenho mais muito esse negócio de “eu tenho que pedalar”. Se não der, não deu. Eu equilibro com a alimentação. Não que eu não coma besteira. Por exemplo, se eu for num restaurante eu até como uma massa.

Como seu marido viu a mudança?
Meu marido me conheceu normal, não assim. Eu engordei do lado dele. Ele nunca pediu para eu fazer dieta, sempre me respeitou. E quando eu resolvi emagrecer foi um processo. Eu falei: “ó, preciso da tua ajuda”. Foi bom pra dieta. Eu não daria conta de fazer uma comida especial pra mim e fazer outra coisa pra ele. Ou muda, ou vai comer comida gorda fora. Dá pra adaptar. Dá pra fazer uma comida gostosa que seja saudável. Ele pode comer em maior quantidade. Nessa proposta de mudança de estilo de vida, a família tem que estar junto.

Sua vida sexual mudou depois de emagrecer?
Ah, melhora tudo. Principalmente eu que nunca me aceitei gordinha. Me olhava no espelho e não me reconhecia. Eu sempre tive autoestima muito boa, mas nessa época ela despencou. Aí eu me sentia muito triste. Aí a autoestima vai melhorando, a vida sexual, as roupas…tudo.

Seu estilo de se vestir mudou?
Mudou quando eu estava gorda. Eu usava 48, então era muito difícil comprar roupa. Você muda o estilo, tem que usar bata, roupa larga, é muito ruim. Hoje uso 38.

Você teve alguma inspiração para emagrecer?
Não. As pessoas sempre me perguntam isso, mas eu não seguia nenhum blog. Como eu nunca almejei um corpo, acho muito lindo hoje que as meninas se inspirem em mim. O que eu pesquisava na internet não eram blogs, mas receita de alimentos, exercícios…

Como surgiu a ideia de fazer um blog?
Fiz o blog quando já tinha emagrecido. E aí quando eu terminei de emagrecer, em julho do ano passado, entrei num site de exercícios que tem bem grande no Brasil, o Hipertrofia, e fiz o cadastro. Aí eu entrei para estudar e vi que o pessoal tinha uns diários de treino. A minha vida sempre foi muito privada. Nunca gostei de me expor, mas entrei no site e falei “ah, vou fazer um diário. Aqui ninguém conhece ninguém”. Aí o login eu coloquei Mimis. Eu tinha uma foto fake lá. No diário da Mimis eu falava de dieta, de treino, fiz uma amizade virtual e as pessoas tanto pediam minha foto que coloquei uma foto da barriga só. Colocar meu rosto no negócio? Eu não!

O tal do diário tinha 100 mil views em dois meses. Eu falei “gente, acho que minha vida é interessante”. Aí eu decidi fazer um blog em setembro de 2012 e eu adoro escrever o que eu penso, mas só tinha um problema: eu tinha que me expor. Não adianta botar receitinha, tem que mostrar o rosto e a barriga. Aí perguntei pro meu marido e ele me incentivou. Fui aos poucos. Comecei soltando receita, não falei nem que eu já tinha sido gorda. Aí uma hora saiu uma foto minha no jornal, eu contei minha história para o jornalista e ele já publicou que eu era uma ex-gordinha. Eu pensei: “que bom. Ele falou por mim”. Fui trabalhando esse negócio da exposição dia a dia. É difícil, mas foi legal. Eu comecei a achar legal fazer uma coisa para ajudar outras pessoas.

Qual o tipo de pergunta mais frequente?
Vinte por cento dos meus seguidores são homens, mas eles são mais quietos. Já as mulheres interagem bastante e dizem: “eu acordo, vejo sua foto e vou treinar”. Eu fiz um FAC porque são tantas perguntas. Elas perguntam sobre suplemento, flacidez, pedem dieta, mas eu deixo bem claro que não sou nutricionista. Elas pedem o cardápio do dia, mas explico que cada pessoa tem uma necessidade. É delicado postar isso.

O que mudou na sua vida?
Mudou tudo. Com o blog mudou muito mais. Mudou autoestima, o controle, o equilíbrio. Eu tinha consciência do que o que eu vivia não era normal. Hoje eu vejo que minha vida é normal. Quem me vê acha que eu não como chocolate e não tenho vida social, mas eu tenho equilíbrio. Me alimento saudável e tenho ocasiões. Tenho orgulho de ter uma vida equilibrada. Minha disposição também mudou, energia, tudo isso é fantástico. E outra coisa que impressiona é que uma pessoa que sempre brigou com a balança hoje tem um corpo que as pessoas querem ter. É incrível. Eu tive problemas alimentares, de ansiedade, fui obesa por três anos e hoje as pessoas me veem como inspiração. Além disso, fico muito feliz em poder ajudar tanta gente.

Que dica você daria para quem quer começar a emagrecer?
O que deu resultado pra mim foi não pensar em emagrecer, mas em mudar o estilo de vida. Porque só emagrecer reflete no corpo, mas muitas vezes a mente não acompanha. Então se tu tem o objetivo de ser saudável, vai emagrecer de uma forma surpreendente. Eu nunca pensei que ia ter o corpo que tenho hoje, com 35 anos de idade. Não tinha esse corpo nem com 20. Isso é reflexo simplesmente dos meus hábitos alimentares. Não foi uma luta desesperada atrás da estética.